quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Exumação dos restos mortais de Arnaldo Cardoso Rocha




Foram exumados na manhã de hoje em Belo Horizonte os restos mortais do militante político Arnaldo Cardoso da Rocha, morto pouco antes de completar 24 anos de idade, em 15 de março de 1973, por uma equipe do Doi-Codi de São Paulo, um dos principais organismos do aparato de repressão.

A exumação foi realizada por peritos do Centro de Medicina Legal da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), coordenados pelo fisiologista Marco Aurélio Guimarães, e também por integrantes da Polícia Federal, por ordem da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos a pedido da viúva de Arnaldo, Iara Xavier Pereira, mãe do filho do militante assassinado.

A diligência, a pedido de Iara, foi acompanhada pela Comissão Nacional da Verdade e pelo Ministério Público Federal. Também compareceu a exumação integrantes do Comitê Mineiro pela Memória, Verdade e Justiça.

O objetivo da exumação é obter mais detalhes que possam esclarecer as circunstâncias da morte de Arnaldo. A versão da ditadura militar é que ele foi morto numa troca de tiros (resistência à prisão), entretanto o laudo necroscópico indica que o corpo da vítima tem sete perfurações de bala e um dos tiros transfixou a mão de Arnaldo, o que caracteriza um gesto de autodefesa muito comum quando os atiradores estão muito próximos da vítima, o que pode indicar execução.

A diligência foi completada à tarde quando técnicos extraíram amostras de DNA do pai e da mãe de Arnaldo, João de Deus Rocha e Annette Cardoso Rocha, ambos nonagenários.
Fotos: André Vilaron / CNV — em Belo Horizonte.
Texto da Comissão Nacional da Verdade

Dirigente da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Filho de Annette Cardoso Rocha e João de Deus Rocha, nasceu em Belo Horizonte, no dia 28 de março de 1949.

De uma família com 9 irmãos, onde reinava o respeito, o carinho e sobretudo a alegria na casa cheia de amigos, com os almoços domingueiros regados a discussão política e cerveja, quando se reuniam todos.

Foi um menino como os demais. Cursou o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o ginásio no Colégio Padre Machado.

Arnaldo era um garoto alegre, carinhoso com os pais e os irmãos.

Ex-soldado do exército, trabalhou no Colégio Militar, na Pampulha.

Já no Colégio, iniciou sua militância política no PCB. Não concluiu o 2° grau em razão dos rumos que o movimento estudantil tomou, a partir da repressão política.

Com relação a sua militância política era bastante reservado, segundo depoimento de sua mãe.

Ao deixar o PCB, juntamente com outros jovens, participou da CORRENTE e mais tarde integrou-se à ALN.

A partir daí foi para a clandestinidade e começaram as fugas, os paradeiros incertos. Já casado com Iara Xavier Pereira, e apesar dos momentos difíceis da luta, Arnaldo não perdeu o jeito doce de viver o cotidiano, participando e dividindo com a esposa as tarefas e afazeres de casa, cultivando, sempre que possível, os hábitos familiares e conservando o seu jeito mineiro de ser. Perseguido pela repressão, em l972 foi para o exterior, onde permaneceu pouco tempo, recusando-se a ficar longe do Brasil e da luta.

Arnaldo foi assassinado, aos 25 anos, em São Paulo, no dia 15 de março de 1973, na Rua Caquito, altura do número 300, no Bairro da Penha, juntamente com Francisco Emanoel Penteado e Francisco Seiko Okano, numa emboscada montada pelos agentes do DOI-CODI/SP.

O laudo necroscópico foi assinado pelo médicos legistas Isaac Abramovitch e Orlando Brandão.

Sua família soube da notícia pela televisão, viajou para São Paulo conseguindo trasladar o corpo para que fosse enterrado em Belo Horizonte, no Cemitério Parque da Colina.

Segundo depoimento de sua mãe à época de sua morte, Arnaldo escrevia um livro, mas não sabe o que foi feito dele.

Arnaldo tinha um sonho: ter filhos, muitos filhos. Teve tempo de ter apenas um, Arnaldo Xavier Cardoso Rocha, nascido a 5 de setembro de 1973 de sua união com Iara, que com 20 anos, estudante de Engenharia Florestal em Viçosa/MG, faleceu tragicamente, em 1994.

Fonte GTNMRJ




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